segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

BATALHA DIÁRIA


Dia de meu aniversário, fim de noite, bateu uma fome!!!
Querendo comer algo saudável, fugindo dos Mcs da vida, eu, uma amiga e três amigos, paramos numa casa de sucos 24h.
Ninguém tinha fome além de mim. Paramos lá por minha causa. Mas todos pediram algo. 
Eu fui a primeira a me decidir sobre o que comer. A fome dava urgência e celeridade às decisões. 
Feitos os pedidos, aguardamos...
Chegam dois pedidos de sanduiche com suco, 
Chega o pedido de tigela de cupuaçu.
Chega outro suco...
A fome reclama: cadê meu pedido que foi o primeiro? 
Questiono ao garçom:
- Ah, minha senhora, já vem! Teve outros pedidos na frente! 
Tento contra argumentar.
Meu interlocutor dá-me as costas.
Mais outros pedidos atendidos e não o meu.
Mais uma vez questiono o garçom:
-Já está descendo a escada.
-Já vem
Quando chega meu pedido: a minha vitamina de frutas! Chega transbordando pelo copo. Gota d’água!

A minha fome se retrai. Não vou dar direito a ninguém de me tratar assim! Não estou ali pedindo favor, e ainda que estivesse, aquilo não é tratamento que se dispense a ninguém.
Me revolto.
Encarno uma Mary Wollstonecraft, presto homenagens a Nísia Floresta, Bertha Lutz e vou à luta da manutenção de minha dignidade. 

Quero falar com o gerente! Ele já vem avisando:
- Não pode a senhora pedir e devolver. 
- O senhor vai me ouvir? 
-Diga.
- Eu fiz o pedido...
- Não demorou nada!
- O senhor está disposto a me ouvir? 
- Vocês querem comer sem pagar? O garçom quem vai pagar!
Ele não me ouve. Pareço não estar ali.
Ele só ouve os homens que falam grosso e se apropriam da briga.
Volta à sua cozinha com pressa e rogando pragas, sugerindo que estamos querendo gratuidade.
Manda avisar que não precisamos pagar.
Nós pagamos, exceto a vitamina, e saímos. E nada consumi.
Nós, mulheres, temos título eleitoral, podemos votar e sermos eleitas. Mas ainda não somos cidadãs. Não somos ouvidas ou dignamente tratadas!
Nunca mais volto àquele lugar, onde fui destratada, ignorada e mal atendida. Assim luto minha batalha diária!

terça-feira, 14 de abril de 2015

Pesquisa com crianças


Você que se interessa em pesquisa com crianças. Solicito divulgação!
Posted by Rosemary Oliveira on Terça, 14 de abril de 2015

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

MINHA RETROSPECTIVA DE 2014

Vai passando do calendário o 2014
Já é quase passado em seu passado
leva consigo pessoas queridas
deixa lembranças
doces e amargas

Um vírus, fazendo uma conversão rara,
subtrai da vida
uma jovem tão querida
uma joia cara

Um modo de vida,
Tira da vida
No mesmo dia
Em que essa havia se iniciado
outrora, alhures

As palavras, em 2014,
Enchem-se de tristezas
sofrem com ausências imensas
na teoria, na prosa, na poesia

No ano em que as crianças
ganham vez e voz em ressonâncias simbólicas
uma criança perde a vez e a voz
na luta contra suas próprias células

E eu, que em 2014,
alcanço desejos mesquinhos
fico muito mais pobre
por perder o desfrute
de palavras, carinhos, olhares
e companhia querida e amorosa

E fico pobre em 2014...

Vislumbrando em 2015,
conseguir alcançar o fim de um arco-íris
E encontrar um pote de ouros...

domingo, 12 de outubro de 2014

12 de outubro

A criança é a alegria do mundo
A renovação da esperança
A beleza simples/complexa
É todo o amor que há na Terra
Num simples sorriso
É a certeza de que tudo valeu a pena
na recompensa de um abraço
O modo mais essencial de ser humano
Quando tudo pode ser resolvido
com um beijo
A esse ser mágico que
para virar gente grande
só precisa de carinho e atenção
Dou, sempre, meu coração!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

19/08/13 18:33 - Notícias
19 de agosto de 2013

Experiência italiana com Educação Infantil é tema de Conferência na UNEB












“A ação do adulto é complexa e refinada. Requer descentramento e escuta para que as crianças tenham o tempo necessário para se expressar. O tempo delas é diferente do nosso. É preciso focar menos em – o quê? e mais – no como as crianças fazem”. Esta foi uma das falas proferias pelo professor Aldo Fortunati, presidente do Centro de Pesquisa e Documentação sobre a Infância – La Bottega di Geppetto, da Prefeitura de San Minato/Itália, e Vice -Presidente do Gruppo Nazionalle Nidi Infanzia.
O evento: durante a Conferência: Diálogos Internacionais sobre a Experiência com as Crianças em San Miniato/Itália, promovido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em parceria com a Avante – Educação e Mobilização Social e a Faculdade de Educação da UFBA, no último dia 15 (agosto), no Campus I da UNEB, trouxe Aldo Fortunati para falar sobre a experiência em educação infantil de San Miniato – cidade italiana localizada na Toscana que sofreu as mesmas influencias de Reggio Emília, outra cidade italiana considerada referência mundial no assunto. Ambas tiveram influência da obra do pedagogo /educador Loris Malaguzzi.
“Para quem teve a oportunidade de visitar Reggio Emilia, esta palestra foi uma confirmação que temos muito a aprender com a experiência italiana. Precisamos falar mais sobre o que ela nos traz como contraponto ao que hoje se considera fundamental na educação infantil e que vem impondo uma pressão no sentido de aferição de resultados”, diz Maria Thereza Marcilio, gestora institucional da Avante, que esteve no evento representando a instituição.
“Durante o evento, lembrei-me de todas as pessoas envolvidas na construção de uma educação infantil que seja um projeto da sociedade e que veja a criança como um sujeito pleno de direitos, forte, competente, rico, sociável, ativo e curioso”, disse Thereza ao descrever seu encantamento diante das falas de Fortunati.
O professor Aldo Fortunati abordou a educação como um direito da criança, como apoio ao seu desenvolvimento e crescimento plenos. “Ela não é feita para atender a demanda de pais que trabalham. Nem é um substituto de famílias ‘incompetentes’”, dispara. Para ele, educação é um projeto social, de toda comunidade. E o professor é uma profissão de interesse social. E a família é o primeiro lugar de convivência, cuidado e educação.
Sobre currículo da Educação Infantil, Fortunati ressaltou que este instrumento é tradicionalmente pensado como: resultados a serem alcançados e estímulos para se chegar aos resultados. E avaliar se os resultados foram alcançados. “Ele foi muito claro ao dizer que esta é a concepção tradicional e ela é ‘falha e burra’, pois despreza a potencialidade das crianças e transforma o professor em um técnico  aplicador”, pontua Thereza.
Para o professor a construção de um currículo para Educação Infantil deve ir na direção contrária. “Deve construir oportunidades, acompanhar processos e percursos, e narrar experiências, ao invés de avaliar resultados. Avaliar não é medir um comportamento em relação a uma norma, mas documentar e recontar as qualidades individuais das estratégias da cada criança”, disparou.
Para sintetizar o seu pensamento sobre a Educação Infantil o palestrante trouxe cinco pontos fundamentais para a educação infantil:
1 – Organização do espaço: arquitetura, equipamentos e materiais.
2- Currículo: na perspectiva sintetizada acima
3- Prática docente como processo de construção coletiva, envolvendo todos os profissionais que atuam no espaço de Educação Infantil. Centralidade do papel do coordenador pedagógico.
4- Historicidade do processo educativo que compreende memória, história e futuro.
5 – Centralidade da família como co-protagonistas do processo educativo. Não são destinatários de políticas, usuários de serviços e menos ainda clientes. Tem que participar da elaboração, reflexão e avaliação.
Fortunati finalizou sua fala diante de uma plateia atenta com um alerta: “A natureza nos presenteia com possibilidades de imensa abertura nos nossos primeiros anos e, com certeza, não o fez para que a escola homogeneizasse e podasse esse imenso potencial. Tem que haver currículo e intenção pedagógica, mas submetidas ao desenvolvimento e potencial das crianças, uma abertura para o inesperado”.
Thereza aproveitou a ocasião para apresentar a Rede Nacional Primeira infância (RNPI) por meio do vídeo/animação: Um plano nacional pela primeira infância. Este vídeo foi promovido pela Avante quando na gestão da Secretaria Executiva da Rede (2011/12), com o apoio do Instituto C&A. A gestora da Avante convidou as instituições representadas na plateia para integrar a Rede Estadual Primeira Infância (REPI – BA) e obteve muitos retornos de desejo de adesão.

terça-feira, 25 de junho de 2013

DA SÉRIE: MEUS ALUNOS PRODUZEM TEXTOS

UNEB:     Universidade do Estado da Bahia.  Campus II .
Prolinc - Programa de formação de professores do Município de Pojuca – Bahia.  Licenciatura em Letras com Inglês.
Discente:  Élida Rose e Jaqueline Oliveira
 Docente: Rosemary

TRANSMUTAÇÃO
VERSÃO TRANSMUTADA
ANÚNCIO
MOÇA SOLTEIRA PROCURA NAMORADO. QUE NÃO SEJA TÃO GRANDE QUANTO UM BOI, NEM TÃO FORTE QUANTO UM JUMENTO E QUE NÃO BERRE TÃO ALTO QUANTO O BODE.
DE PREFERÊNCIA QUE SEU SUSSURRO SEJA MINUCIOSO COMO O GRANIR DE UM RATO. QUE USE CARTOLA E SE VISTA BEM. AH!!! QUE NÃO SEJA GULOSO E QUE NÃO GOSTE DE FEIJOADA.
A MOÇA É PRENDADA, AFORTUNADA E BEM ARRUMADA.

OS INTERESSADOS, FAVOR PROCURÁ-LA NA JANELA DE SUA CASA, QUE FICA NA AVENIDA FITA NO CABELO, RUA DINHEIRO NA CAIXINHA.

BASEADA NA HISTÓRIA ORIGINAL
DONA BARATINHA

Era uma vez uma linda Baratinha. 
Gostava de tudo muito limpo e arrumado.
Um belo dia, Dona Baratinha varria o jardim de sua casa quando encontrou uma moedinha. Ficou muito feliz!
Rapidamente, tomou um banho, colocou um vestidinho bem bonito, uma fita no cabelo e ficou na janela da sala de sua casa cantando assim:
     "Quem quer casar com a Dona Baratinha,
      que tem fita no cabelo e 
dinheiro na caixinha?"
      logo, logo começaram a chegar os pretendentes.
O primeiro que passou foi o Senhor Boi, muito bem vestido.
Dona Baratinha perguntou então para ele:
      - Que barulho o senhor faz quando dorme? E ele respondeu:
- Quando eu durmo, o meu ronco é assim - MUUUUU..........
- Saia já daqui! O Senhor me assusta com todo esse barulho!
      Dona Baratinha voltou para sua janela, cantando a mesma canção:
"Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?"
      
Um tempo depois passou um jumento todo arrumadinho e falante,  dizendo:
- Eu serei o marido ideal para a Senhora.
          quando o senhor dorme, como é o barulho que o senhor faz?
       - Eu faço assim - Ióh..Ioh...Ióh...Ióhooooooo.........
        Assustada Dona Baratinha mandou que ele saísse e nunca mais passasse por lá para assustá-la novamente.
       Depois de algum tempo,já desanimada, Dona Baratinha recebeu uma visita inesperada. Era o Senhor Ratão, muito falante e animado:
       - Senhora Baratinha, estou muito apaixonado pela senhora e pretendo me casar logo, logo.
A senhora aceita?
       Mais uma vez,Dona Baratinha perguntou:
      - "Como o senhor faz para dormir?"
       Senhor Ratão disse:
       
- Eu sou muito discreto em tudo que faço.
Até para dormir, meu ronquinho é muito baixinho e dificilmente eu ronco!
É assim:
- iiiihhhhiiiiihhhhhh.......      
- Que maravilha! disse Dona Baratinha! Esse barulho não me assusta, até parece uma suave melodia. Com você eu quero me casar e tenho certeza que seremos felizes para sempre!!!!   
Logo foram marcando a data do casamento e preparando a festa.
Dona Baratinha pediu para suas amigas Abelhas, Formigas e Borboletas prepararem uma gostosa feijoada, sucos de diferentes frutas e muitos doces! No dia marcado, a noiva já estava esperando na igreja toda preocupada, porque todos os convidados estavam lá também, só faltava o querido noivo.      
Corre daqui, pergunta dali e nada! Ninguém sabia do paradeiro do distinto cavalheiro.O que será que tinha acontecido com ele? Todos se perguntavam....
Acontece que Senhor Ratão era muito guloso.Não resistiu esperar pela surpresa da festa que a noiva havia lhe preparado. Então, aproveitando que todos já estavam na igreja ele foi até a casa das amigas de sua noiva onde tudo estava prontinho e arrumadinho e foi investigar os comes e bebes.     
Quando sentiu o cheirinho apetitoso da feijoada, resolveu subir na panela e experimentar um pouquinho....
      Acontece que Senhor Ratão perdeu o equilíbrio e caiu na panela do feijão! Como não tinha ninguém em casa ele não se salvou, morreu afogado dentro da gostosa feijoada!!!
       uando soube do acontecido, Dona Baratinha triste ficou.
Voltou para sua casa e continuou a vidinha de sempre.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

DA SÉRIE: MEUS ALUNOS PRODUZEM TEXTOS


RECEITA DA INDIGNAÇÃO

Ingredientes:
·        1 povo esperançoso;
·        1 período de eleição;
·        1 partido dito dos trabalhadores;
·        1 governador fascista;
·        Uma classe de profissionais.

Modo de preparo
Pegue a população de um estado insatisfeita com uma forma coronelista de  governo coloque num recipiente chamado eleição e reserve. Após alguns minutos bata com um discurso de um carioca abaianado e veja a massa se mover. Leve ao forno da administração. Depois de esperar alguns meses peça que atendam seus direitos e veja como nunca lhe ouvirão. Para melhorar o sabor abra uma lata chamada greve e veja professores desmoralizados por 2 meses. Para encerrar espere mais 3 anos exija novamente seu direitos, não lhe ouvirão, então abra a lata GREVE e veja um governador fascista cortar salários, proibir empréstimos bancários, cancelar vale cesta entre outros, jogando assim uma vez, não duas vezes mas uma vez seus eleitores no descaso social. Para cobertura é só olhar os outdoors e veja a propaganda de um Estado que cresce cuidando de sua gente e o prato está pronto.
Acompanhamento: um salario vergonhoso e o dito: você já sabia disso.
Tempo de duração: apenas 8 anos
Quantidade de porções: a população de um Estado.
Autores: Adilton, Naiara e Osmara - formandos em letras com inglês - UNEB 

domingo, 18 de março de 2012

ROSE, A CONTADEIRA DE HISTORIETAS DA VIDA REAL

       AH, MAS TEVE AQUELA DO ASSALTO!    


Essa foi épica! Digna de uma narrativa de Homero, de Virgílio, de Dante, de Camões. Se bem que está mais para Machado de Assis em O Alienista, ou Quincas Borba: “Ao vencedor, as batatas!”. Enfim, um dramalhão shakespeariano!

Lá vinha eu, rua deserta, um tanto clara, um tanto escura, à noite, sozinha, carregava em uma mão monografias à espera de um parecer cada uma. Na outra, segurava a bolsa como quem segura o salva vidas. Alvo fácil, diriam os mais apressados. Muito confiante para pouca munição, diriam os sensatos.

Um caminhão fazia sombra na calçada já com pouca iluminação. Passar pela calçada de cimento, atrás do caminhão ou passar pela rua de paralelepípedos, deserta, inclusive de carros, ressalve-se? Para qualquer pessoa com um mínimo de juízo: passar pela rua, ficar mais visível, claro! Ah, vou pela calçada mesmo que é mais fácil de andar com esse salto altíssimo do qual não abro mão em nenhuma situação (dá até samba a rimadinha).

Já quase tendo vencido o caminhão, eis que aparece uma bicicleta que para em derrapagem a minha frente. O alvo fácil, bem ali no cantinho escuro vai logo estendendo a mão: não venha não! Tentando engrossar a voz o mais possível. Mas ele foi. Puxou a bolsa. Ele de lá, eu de cá. Queda de braço ao estilo Indiana Jones, quando a antropóloga na Rússia gelada, depois de tomar mais um copo de vodka, vence no braço o fortão cossaco. Eu não venci na força, venci na persistência. Caímos por cima da bicicleta eu e ele. O rapaz de lá, tentando se manter em pé parecia puxar uma arma:

- Solte ou eu atiro!

Ora, o que faria qualquer pessoa em seu juízo perfeito em uma hora dessas? O que faria uma senhorinha nos saltos? O que faria uma mãe de família ao pensar nas filhas? Vão-se os anéis, ficam-se os dedos!

Desajuizadamente, a criatura aqui responde ao meliante que puxa a arma:

- Atire, pode atirar! Atire, vá!

Juízo na capa fixa do salto, vou tentando me levantar sem largar as monografias, sem largar a bolsa, mantendo a elegância, lutando contra a gravidade e sem atinar para a gravidade da situação. Ele negocia:

- Me dê só o celular! Resposta imediata:

- Não tem celular nenhum!

Bem, não será uma mentira se a gente analisa a frase como eu negando a ele a entrega do aparelho. Haviam dois na bolsa, com carregador e outras coisinhas mais.

Fico aqui imaginando a cara e os pensamentos do tal rapaz, pois levantei-me resoluta e pus-me a caminhar na direção de meu itinerário, sem mesmo olhar para trás, resmungando:

- Onde já se viu, querer roubar professor!

Ao chegar em casa, portão fechado, me dei conta do ocorrido: poderia ter levado um tiro, poderia ter sido agredida, poderia estar morta! Nasci naquele dia e espero ter mais juízo da próxima vez: vão-se os celulares, fica a vida!


sexta-feira, 16 de março de 2012

ROSE, A CONTADEIRA DE HISTORIETAS DA VIDA REAL

PALESTRANDO


Teve aquela vez em que eu fui convidada a falar para a calourada de letras de uma universidade. Era para ser uma mesa, mas, muito apropriadamente tendo sido desfeitos os misancenes formais, nos posicionamos, nós, palestrantes, bem descontraidamente com estudantes recém ingressos na universidade.

Muito pacientemente ouviram sobre os Diretórios Acadêmicos, sobre procedimentos acadêmicos de bibliotecas e tudo o mais que faz acontecer a vida acadêmica. Depois fomos apresentados, nós, os docentes, aqueles guardiões do saber e da possibilidade da transformação de estudantes adolescentes em profissionais adultos, conforme reza a lenda popular. Os olhinhos brilhando, recém chegados àquele lugar, depois de tanta expectativa! Depois de tanto estudar e provas vestibulares e sonhos de uma profissão de ingresso na vida adulta e produtiva...

Começa a falar a professora da casa, subvertendo as regras de boa educação que, dizem que devemos dar prioridade aos convidados. Tudo bem, regras são regras, estão aí para serem postas por terra. A encomenda da fala era para apresentar aos ingressos, futuros profissionais daquela área, as perspectivas de emprego, de atuação no mercado, de inserção na vida profissional.

Inicia-se a fala da professora doutora, concursada daquele espaço universitário:

- Fiz uma pesquisa procurando a maior quantidade de possibilidades, recorri ao Google, vocês têm muitas caminhos a seguir...

E desfolhou as possibilidades encontradas em sua pesquisa, com as ressalvas:

- Para se engajar em muitas dessas, vai depender de sua rede de amizades, mas para a maioria, você não precisa desse curso...

Para tudo! ãh? Eles não precisarão do curso ao qual eles acabam de ingressar!?? Depois de árduo esforço!? Bem. O melhor estava por vir.
Jogada a primeira bomba, olhinhos atentos, lá vai outra:

- Neguinho (palavra baiana para designar o empregador) vai tirar seu couro (expressão baiana para dizer que vão fazer você trabalhar muito) e você vai ganhar uma merreca (de novo, palavra baiana para indicar baixos salários).

E assim é descrita a profissão para a qual serão preparados por oito semestres... na qual investirão tempo, dinheiro e expectativas. Balde de água fria despejado, eu me coçando para discordar, ainda vem mais, na sequência:

- A menos que você tenha a sorte de casar com alguém com uma profissão melhor remunerada como eu tive a sorte de fazer, aí vai ter uma vida tranquila.

Isso foi dito a despeito de anteriormente ter sido confessado que ela mesma já havia passado por quase todas aquelas situações empregatícias anteriormente citadas. A despeito de toda uma discussão que aquela mesma universidade levanta, engajada em discussões já, agora, secular, sobre o papel social e político da mulher na sociedade e na produção tecno-intelectual e cultural.
 
Não sei a calourada, não tive coragem de conferir, não fui capaz de olhar para os olhinhos atentos, mas eu estava estupefata! Dá para contestar isso? Deixa quieto (expressão baiana para: vamos mudar de assunto porque esse já deu o que tinha que dar!).

Disparada a sua verbobelicosidade, a conceituada profissional se retira e deixa lá (no limbo) as convidadas. Sou a próxima. Lá vou eu, pessoa que sempre viveu da profissão que abraçou, muito carinhosamente diga-se de passagem, com certa independência e tendo construído patrimônio e família, contanto com os resultados do próprio trabalho, apresento meus argumentos na esperança débil de, quem sabe, atingir com a minha alegria em ensinar o amor pela profissão e, quem sabe, fisgar uns corações.


Coisas da educação no meu país!